23.06.10 Astronomia na calçada em um céu de transição urbano/rural.

No último dia 10.jun.23, sábado, com a Lua nascendo apenas após a meia noite, temperatura mínima prevista de 14°C e um vento leve do Norte, fui ao campo fazer uma astronomia na calçada para amigos e suas crianças na faixa dos 10 anos. Essas condições climáticas são raras, ocorrendo uma ou duas vezes por ano quando há um encontro de uma frente fria com uma frente quente sobre nosso Estado, trazendo inclusive céus limpos e estáveis favorecendo a observação e astrofotografias. Condições que exigem um telescópio no campo.

Saí de casa 16h10, chegando ao local as 17h10, ainda com o Sol acima do horizonte. Descarreguei o carro e comecei a montagem do equipamento. Logo o Moreno e a Lhuba chegaram com suas meninas e um pouco mais tarde as 19h00 chegaram o Dan e a Marina com mais duas crianças, quando o equipamento montado, ajustado estava pronto.

Iniciei pelo Sistema Solar mostrando Vênus em fase, algo em nossa vizinhança e conceitualmente familiar aos iniciantes. Nesta época não temos os grandes astros visíveis no horário, somente após meia noite. Então parti para os objetos de céu profundo, além do Sistema Solar, começando pela Caixa de Jóias (Caldwell 94) 6.4kly ao lado do Cruzeiro do Sul, o belo aglomerado aberto com estrelas de diversas cores. Em seguida mostrei Ômega do Centauro (Caldwell 80) 16kly, o maior aglomerado globular do céu com dez milhões de estrelas segundo a equipe do Hubble. O laser verde sempre encanta a primeira experiência, quando usei para mostrar tanto com binóculos, quanto com o telescópio. Mostrei a nebulosa escura Saco de Carvão (Caldwell 99) 590ly, cabeça da figura da Ema, não tão bem definida no horário, pois Escorpião ainda estava nascendo.

Nesta altura os observadores estavam elaborando mentalmente o que viam, após exclamações de surpresa e deslumbramento. Segui adiante, saindo de nossa galáxia, mostrando a galáxia Centaurus A (Caldwell 77) 12Mly, e sua faixa escura marcando o núcleo. Eu estava usando o telescópio de 203mm com f=1000mm e uma ocular de 8mm o que resultava em aumento de 125x. Um tanto tênue exigindo observar com a visão periférica e até uma batidinha no tubo para o cérebro processar a imagem. Ali pertinho estava a Galáxia Tweezers (Caldwell 83) a 11,2Mly praticamente no grupo local de galáxias (definido como de até 10Mly de distância), o contraste não estava destacado, mas era possível ver o tamanho dela, sendo bastante interessante, pois preenche o campo da ocular.

Já um tanto baixa, a nebulosa da Tarântula(Caldwell 103) 160kly, na Grande Nuvem de Magalhães (GNM) causou curiosidade. Enquanto alguns olhavam no telescópio, outros olhavam para o céu, admirados com a quantidade de estrelas; provoquei fornecendo o binóculos e apontando Wishing Well (Caldwell 91), Eta Carinae (Caldwell 92) 8,5kly, e Plêiades do Sul (Caldwell 102).

Lá no Zênite a galáxia do Sombreiro (Messier 104) 31Mly ao lado do “escorpiãozinho” foi admirada por alguns, mas não por todos, pois o contraste não estava definindo bem os objetos. Adiante antes que se pusessem mostrei duas das galáxias do Tripleto de Leão (Messier 65, 42Mly e Messier 66, 31Mly).

Já alto, o belo aglomerado aberto Ptolomeu (Messier 7) 980ly deslumbrou os iniciantes, com alguns reparando as estrelas do fundo na direção do Centro Galático. De lá um pulo no sistema binário Acrux para falar deste tipo de estrelas em dupla.

Para encerrar mostrei Eta Carinae com 27x de aumento em grande campo, passando para 125x para observar o homúnculo, em seguida aplicando o filtro UHC-S para destacar a faixa do espectro do hidrogênio e do oxigênio, e para minha curiosidade que já vira ele com dois pontos vermelhos, agora estava com um ponto vermelho e outro verde, talvez iniciando ou terminando aquela transição da mais brilhante mergulhando abaixo da cromosfera da maior, que tive o prazer de acompanhar anos atrás.

Durante as três horas de observações também falamos de Regulus, Antares, Spica, Castor, Pólux, a lenda de Órion, Artemis e o Escorpião, outras estrelas e algumas constelações mais evidentes. Vimos várias estrelas cadentes também.

Só faltou mostrar Messier 84, a 55Mly (Markarian’s Chain) no Super Aglomerado de Galáxias em Virgem, região do universo onde está o Grupo Local do qual pertence a Via Lactea, falando sobre essas localizações.

Vinte e duas horas encerramos, e nos despedimos. Meia noite e quinze eu estava em casa, satisfeito.