O funcionário público Leandro Trevisan e o analista de sistemas Reginaldo Nazário se conheceram pela internet, em um site de leilões. Pesquisavam acessórios para telescópios e, conversa vem, conversa vai, descobriram que trabalhavam perto um do outro. Apaixonados por Astronomia, resolveram ir além do blablablá dos fóruns de discussão e fundaram seu próprio grupo de observação.
Há dois anos na ativa, o Nevoeiro, como foi batizado, hoje conta com 23 membros. Especializada em “saídas de campo”, a turma se reúne em chácaras e sítios da Região Metropolitana de Curitiba para observar planetas, cometas, chuvas de meteoros, supernovas e afins. Uma atividade que exige disposição e, acima de tudo, condições climáticas adequadas.
Como o Nevoeiro, existem mais de cem outros grupos de observação espalhados pelo país. E não se trata apenas de um passatempo. A Astronomia é uma das raras ciências em que os estudiosos amadores exercem um papel ativo, principalmente na descoberta e acompanhamento de fenômenos. Afinal, os astrônomos profissionais costumam se concentrar em suas pesquisas específicas, enquanto os independentes estão “soltos” por aí atrás de objetos celestes.
Para incentivar ainda mais os amadores e atrair novos interessados, a Unesco (organismo da ONU voltado para a educação e a cultura) definiu 2009 como o Ano Internacional da Astronomia – IYA2009. As celebrações marcam os 400 anos da primeira utilização do telescópio, por Galileu Galilei, e vão contar com eventos em 135 países. Em Curitiba, a abertura oficial da programação acontece amanhã, no Colégio Estadual do Paraná, onde está montado o Planetário da cidade (leia quadro ao lado).
Segundo Bertholdo Schneider Jr., um dos representantes do IYA2009 por aqui, a principal meta nacional até o fim do ano é fazer com que um milhão de brasileiros observem o céu por meio de telescópios. O projeto ainda tem outros objetivos, entre eles “fornecer uma imagem moderna da ciência e do cientista”, como consta no documento publicado pela Unesco.
Professor de Eletrônica e Biomédica da Universidade Tecnológica Federal do Paraná e membro do Clube de Astronomia da instituição (o Cautec), Bertholdo explica melhor esse último propósito. “Não somos loucos”, brinca, sobre a fama de lunáticos dos observadores amadores. “Mas, se a pessoas nos veem assim, temos nossa parcela de culpa”.
Será por isso que há pouquíssima presença feminina no meio? Amauri José, professor de Física e Astronomia do Planetário, tem outra tese. “Como é uma atividade noturna, os pais normalmente não liberam as adolescentes para as saídas de campo”, afirma.
Seja como for, entre os 23 membros do Nevoeiro, apenas três são mulheres. Uma delas, a estudante Elaine Martins, entrou no grupo por influência do tio, Marcelo. As outras são namoradas ou mulheres dos integrantes. As parceiras que não participam das atividades também não se incomodam.
“Minha mulher sabe que somos apenas um bando de marmanjos olhando para o céu. É a nossa pelada do fim de semana”, compara Reginaldo. “Na maioria das vezes, a gente come pizza, toma vinho e ri bastante”, admite Marcelo.
Mas, afinal, qual o grande barato da Astronomia amadora? “Com os instrumentos, você vê o céu de uma forma totalmente diferente. Às vezes, a noite passa e não se consegue ver tudo”, afirma Reginaldo.
Para Bertholdo, trata-se de uma reminiscência da infância. “Esse fascínio pelo universo é uma coisa que vai estar dentro da gente para sempre. Eu resumo tudo isso numa só palavra: encantamento”.
Omar Godoy
Equipe da Folha